segunda-feira, 3 de maio de 2010

Acordo às 4 da manhã

Outro dia tomei um ônibus para ir pra casa, por volta do meio-dia, e me deparei com uma situação esquisita. Não fosse pela verdade dos fatos, seria apenas um mero relato cômico do cotidiano, mas não. Foi real. Vamos à história...

Um senhor de pernas finas, boné azul e bermuda jeans, bem avançado em anos, entra no lotação pela porta da frente - como parte das exigências do novo sistema de transporte público - cuspindo fogo: "Você não me viu lá trás não, rapaz?".

Pensando alto o motorista diz. "Se eu deixei o senhor lá trás, como é que o senhor está aqui agora?” Intrigante, não! Pois, é. O ancião não ficou pra trás na resposta atravessada e resmungou: “Isso é um absurdo! Estou no ponto há horas e, quando penso que vou tomar uma condução pra chegar em casa mais cedo, vocês simplesmente ignoram quem está no ponto”.

Estressado com os motoqueiros e com o trânsito caótico de Montes Claros, o motorista do lotação quase finaliza por ali a conversa: “Meu senhor, todos os dias eu acordo às 4 da manhã e só paro às 10. Não posso tolerar isso. Já tenho muitos problemas para ouvir isso do senhor. Tolero o Faustão, o Gugu e a minha sogra todos os finais de semana. Além disso, ganho muito pouco pelo trabalho que realizo diariamente.

Matuto, o velho, exigindo explicações, se acomodou por ali mesmo nos primeiros bancos dedicados à terceira idade, e retrucou novamente: “Meu filho, apesar da idade, também acordo cedo todos os dias. Desde 5 da manhã estou de pé, no Centro, resolvendo coisas importantes. Agora, eu não tenho culpa se você simplesmente esquece as pessoas no ponto. Seu trabalho é apanhar os passageiros e não deixá-los esperando”.

Nessa altura, a conversa já tinha mais ou menos uns quatro ou cinco espectadores, incluindo esse jornalista que vos narra. Cruzamento à vista próximo à Mestra Fininha. Pés no freio e na embreagem, seta pra esquerda e alguém puxa a cordinha encardida do sinal. Uma estudante de olhos lindos vai descer logo mais à frente. Atento ao trânsito, na troca de marchas e no retrovisor interno do carro, o motorista observa profundamente seu exigente passageiro pelo espelho e explode de vez!

“Meu senhor, se você está insatisfeito com o serviço, sugiro que pegue um táxi ou mesmo um mototáxi para chegar em casa. Eu estou de saco cheio!.

O velho, talvez pela idade, pode não ter ouvido a orientação profissional ou mesmo ignorado o conselho do jovem, porém estressado motorista.

Atentos àquela conversa, os espectadores entenderam bem o recado. Prometeram para si mesmos que vão até pular na frente do ônibus caso o motorista ao menos fingir que o ponto está vazio

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